2011-09-27

Palmeira das Canárias

Há uns anos largos comecei a reparar que as palmeiras não eram todas iguais e chamei-as de tipo A, tipo B e tipo C. Agora com a internet encontrar nomes ficou mais fácil e constatei que as que eu chamava de tipo A eram da espécie Palmeira-das-Canárias, Phoenix canariensis, que recentemente está a ser vítima em Portugal de uma praga.

Esta palmeira que fotografei nos Olivais, apresenta a particularidade de se situar num pátio actualmente abandonado, por onde não passa ninguém, pelo que as folhas de baixo, já um pouco secas, não foram cortadas, deixando a planta com o seu aspecto natural, na fase jovem em que o tronco está pouco crescido, constatando-se que a planta ocupa um espaço enorme.

Aqui ficam as imagens, primeiro num dia nublado e depois num dia com sol, em fotos tiradas de um mesmo ângulo (ou quase), mostrando a importância da iluminação:



2011-09-26

Luz de Setembro nos Olivais

Tirei esta foto ontem ao fim da tarde nos Olivais Sul. As folhas das oliveiras parecem-me sobreexpostas mas a minha máquina tem tantas possibilidades que tenho dificuldade em sair dos modos mais automáticos.



A luz mais baixa fez-me lembrar os países nórdicos mas eles lá não têm oliveiras.

2011-09-24

A Ideia de Justiça, de Amartya Sen

Nestes tempos de crise pareceu-me apropriado ler o livro "A Ideia de Justiça", escrito por Amartya Sen, que ganhou o prémio Nobel da economia em 1998, pelos seus trabalhos sobre a Teoria da Escolha Social e do "Welfare State", (Estado do Bem-estar social).

Li na versão inglesa original mas a Almedina editou recentemente uma versão em Português.

Gosto dos escritos do Amartya Sen que já referi aqui e aqui.

Tendo adquirido a noção, suponho que no liceu, que uma das heranças mais importantes que o império romano nos deixou foi precisamente o Direito Romano, perturba-me pensar que esse legado, tão importante para o Ocidente, veio duma sociedade baseada na existência da escravatura. Este facto ajudará a perceber porque é que ao fim de tanto tempo continua a ser necessário procurar saber o que será a Justiça.

Há algum tempo que na Matemática se tem assistido a um menor interesse na procura de provas formais, de existência ou de inexistência de uma ou mais soluções para um problema, havendo um maior interesse em métodos construtivos de soluções sucessivamente melhores. De forma análoga neste livro, Amartya Sen defende a procura e construção de soluções sucessivamente mais justas, em vez da procura do contrato social ideal feita por John Rawls, não obstante considerar muito importante as contribuições deste seu colega e lhe dedicar este livro.

Desde que comprei a “Riqueza da Nações” do Adam Smith através da Amazon que passei a receber e-mails de vez em quando dizendo-me que quem tinha comprado aquele livro também comprara a “Teoria dos Sentimentos Morais” do mesmo autor, livro que acabei por comprar mas que ainda está à espera de ser lido. Amartya Sen refere várias vezes este último livro, a propósito da importância do “observador imparcial” ou exterior. Se por um lado é importante que um juiz esteja a par dos valores e tradições duma dada sociedade, para perceber as pressões sociais que poderão explicar em parte o comportamento dos seus membros, também é importante a contribuição de uma pessoa estrangeira que, pelo seu desprendimento poderá com maior facilidade mostrar a irracionalidade de alguns comportamentos que se foram enraizando. O facto de Amartya Sen ter nascido e vivido na Índia, então colonizada pela Inglaterra, numa sociedade tradicionalmente discriminando castas, a que se adicionava a discriminação colonizador/colonizado, tornou-o muito sensível à necessidade da Justiça não estar contida em fronteiras. Dada a unidade da espécie humana a Justiça não deveria depender da Geografia e embora se saiba que tal não é actualmente viável, deve existir a preocupação de aumentar o seu carácter internacional, como um dos aspectos da globalização.

O livro tem 400 páginas, de leitura nem sempre fácil , na minha qualidade de engenheiro apreciaria que algumas das discussões fossem mais breves mas, como noutros livros do mesmo autor, tem passagens inesquecíveis que nos ajudam a suportar as passagens mais áridas.

Ultimamente tem-se assistido a um ataque muito violento ao "Estado Social", basicamente alegando que o “Estado Social” “não é sustentável”. Da enorme algazarra que se tem levantado sobre o tema, tem-me ficado a ideia que o Estado Social que actualmente temos em Portugal não é realmente sustentável, o que é muito diferente de considerar que qualquer Estado Social não é sustentável, conforme é corroborado aqui.

Este livro ajuda a não esquecer que o Estado Social é uma das condições da Justiça.

2011-09-22

Flores de Setembro

Vi estas hoje, pequenas mas com cores vivas, na Praia da Rocha.


Depois vi no mesmo local este arbusto com estes cachos de flores amarelas que não me lembro de ter visto antes



aqui em mais pormenor



e aqui banhado pelo sol quase a pôr-se



Nesta última não resisti a retirar da imagem uma mosca, que teve a impertinência de perturbar a foto, com um ligeiro pós-processamento. As imagens estão a ficar cada vez mais perfeitas em relação à realidade.

2011-09-18

Novos desenhos de postes de electricidade

No último post dei um saltinho duns desenhos no tecto duma mesquita para umas obras do artista contemporâneo Sol Lewitt.

Houve entretanto um anónimo que deixou um comentário apontando para um artigo do Guardian onde se mostram vários projectos de postes para linhas de alta ou muito alta tensão. Parece-me que o salto dado pelo anónimo é maior do que o meu, ao saltar do Sol Lewitt para estes postes, talvez tenha sido a profusão de linhas brancas.

Na Finlândia têm desenhado uns postes muito bonitos e agora em Inglaterra estão a fazer o mesmo. É provável que seja altura para pensar nisto pois passou-se muito tempo desde que os desenhos dos postes actualmente instalados na paisagem foram feitos, na altura os computadores não eram tão poderosos, dificultando os cálculos de estruturas menos regulares, e estão constantemente a aparecer materiais novos que abrem novas possibilidades.

Gostei de todas as propostas, não consegui votar em nenhuma delas, acho que bem poderiam usar uns postes dum tipo num sítio e doutro tipo noutro, gostei mesmo da exposição dos postes numa sala com pinturas medievais, com fundos dourados, a arte é um continuum, atravessando toda a existência dos seres humanos.

Aqui ficam as imagens:







2011-09-14

Isfahan – Jameh mosque

Nas cidades e vilas do Irão existe sempre uma mesquita Jameh, que é quase sempre a mais importante, onde os fiéis se reúnem para a oração de sexta-feira, o dia mais sagrado da semana para os muçulmanos, equivalente aos sábados para os judeus e aos domingos para os cristãos. “Jameh” significa congregação. Na Índia estas mesquitas mais importantes ou maiores chamam-se Jama Masjid, a com maior capacidade é a de Delhi.

A mesquita Jameh de Isfahan é muito antiga e de grande dimensão, como seria de esperar, indo o seu acesso ser facilitado por uma estação de metropolitano, cujas obras mostrei no post anterior.

Sendo um local onde as pessoas afluem regularmente, costuma ter um mercado ou bazar tradicional nas redondezas. No bazar ao pé da mesquita Jameh de Isfahan mantém-se a abundância de manequins masculinos para vender camisas polo, já referida em posts sobre montras no Irão.


Surpreendeu-me o pormenor da exibição de sandálias para senhoras usando um modelo de pé com as unhas pintadas de verniz vermelho, para realçar o produto. Esta maquilhagem é proibida nos locais públicos mas aparentemente usada no recato do gineceu das casas particulares.


A maquette da mesquita ilustra a sua importância.


Estas mesquitas que existem há muito tempo apresentam heterogeneidades arquitectónicas como as que ocorrem nos templos cristãos de muita idade. Os crentes vão adicionando elementos, procurando uma integração mais ou menos harmoniosa, umas vezes com mais sucesso outras com menos. Como já mostrei muita cerâmica esmaltada de outras mesquitas vou-me aqui cingir apenas a três detalhes curiosos:

O primeiro é um pequeno Mihrab, num dos muitos pequenos espaços dedicados à oração. Está rodeado por uma caligrafia em baixo relevo de execução muito trabalhosa.



O segundo é um Minbar, um “púlpito” onde o iman se dirige aos fiéis



O terceiro é um tecto magnífico cujas linhas me levaram a pensar que o Sol Lewitt se teria inspirado nesta arquitectura de tecto para algumas das suas obras contemporâneas



Como exemplo mostro duas obras do Sol Lewitt,



que há muito tempo referi aqui.

2011-09-13

Buracos em Lisboa e noutros sítios (em Isfahan)

O estado deplorável do pavimento na foto de Mumbai que publiquei no último post fez-me lembrar que andei durante vários meses a olhar para uns buracos no pavimento de uma pequena praceta dos Olivais e a pensar que deveria escrever à Câmara Municipal de Lisboa para virem reparar os buracos que iam aumentando lenta mas inexoravelmente.

Finalmente no final de Julho enviei uma mensagem para este endereço:

http://atendimentovirtual.cm-lisboa.pt/Paginas/DeixeMensagem.aspx

participando a existência dos buracos. Daí a uma ou duas semanas os buracos foram reparados, deixando-me a pensar que deveria ter feito a participação mais cedo...

De forma muito demagógica associo este pequeno sucesso no contacto com a C.M.L. à situação completamente caótica em que encontrei algumas ruas de Isfahan, no Irão, devido à construção de túneis para o Metropolitano. O guia dizia com humor que corria o boato que andavam à procura de um grande tesouro mas que ainda não o tinham encontrado.

Nesta foto presumo que estejam os colegas engenheiros responsáveis por este caos a discutir como colocar alguma ordem nesta zona tão confusa, mesmo assim convenientemente delimitada por uma fita amarela, com sinal internacional de perigos vários.



Quando há muitos anos fizeram em Lisboa os primeiros túneis do Metropolitano, numa intervenção a céu aberto que esventrou durante anos as ruas por onde passava, o aspecto geral não diferia substancialmente do que aqui se vê.

2011-09-12

“Beneficios” fiscais, as deduções da saúde e a instituição das castas

«
Sempre achei o termo "benefícios fiscais" paternalista e enganador. Nem os contribuintes precisam dos "benefícios" do Estado, nem este os deve distribuir. Precisamos de leis justas e de critérios razoáveis. Chamar a uma parte dos critérios de cálculo do imposto "benefícios fiscais" é inquinar a discussão à partida e colocar o contribuinte numa posição de inferioridade a quem o Estado está a fazer um favor. É evidente que ao aumentar a receita fiscal através da alteração dos impropriamente chamados "benefícios fiscais" se estão a aumentar os impostos.
»

Inseri este comentário num post do João Galamba intitulado “Justiça”, em 23 de Março de 2010, quando Teixeira dos Santos defendia a necessidade de acabar com alguns “benefícios” fiscais, contra a oposição violenta e sonora do PSD e do CDS então na oposição.

Considero as despesas com a saúde como custos de conservação ou manutenção do próprio agente económico pagador de imposto. No caso das empresas o Estado considera que as despesas de conservação e manutenção devem ser deduzidas ao rendimento bruto para se obter o rendimento colectável. No caso dos rendimentos dos senhorios, as despesas de conservação e manutenção dos edifícios são também dedutíveis ao rendimento bruto, na obtenção do rendimento colectável. Antes de 1999 também era assim em relação aos gastos com a saúde, no cálculo do IRS.

Foi o governo de António Guterres que iniciou o ataque às deduções das despesas com a saúde, alegando ser imoral que um pobrezinho que estivesse na taxa do IRS marginal dos vinte por cento tivesse apenas um desconto desse valor enquanto um rico que estivesse na taxa marginal dos quarenta por cento tivesse um desconto que seria o dobro do do pobrezinho. A solução que então foi adoptada foi aplicar um desconto fixo a todos os contribuintes e fazer a dedução das despesas de saúde como dedução à colecta. Na altura não aplicaram o mesmo critério às despesas de manutenção dos rendimentos dos senhorios, partindo talvez da conjectura que qualquer senhorio é riquíssimo e que estarão todos certamente no escalão máximo.

No ficheiro localizado aqui
http://www.min-saude.pt/NR/rdonlyres/F406CB48-6886-4EAD-88B5-CBE70D553A52/0/AnexosRelatorioFinalComissaoSustentabilidadeFinanciamentoSNS.pdf

O anexo 15 “O sistema fiscal e as deduções com as despesas em saúde” começa por esta frase:
«
Uma característica fundamental – mas pouco debatida – do financiamento da saúde em Portugal é a sua inter-relação com o sistema fiscal. Através do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS), os contribuintes podem recuperar, em qualquer ano, uma parte substancial das despesas directas e prémios de seguros de saúde que desembolsaram no ano anterior.
Para o Estado, este benefício significa uma perda de receita que tem que ser compensada pelo aumento geral da tributação.87
»
em que a nota de roda-pé 87 é precisamente
«
87 Note-se que a legislação portuguesa não define este caso como um “benefício fiscal” mas como uma “dedução”: No entanto, o seu tratamento fiscal é precisamente igual a vários “benefícios fiscais” tais como as contas poupança reformado ou donativos a instituições religiosas. No presente capítulo, utilizamos o termo benefício não em termos formais mas sim para indicar excepções às regras fiscais que trazem um benefício a determinado grupo de contribuintes.
»

onde se constata a importância de passar a chamar “benefícios” fiscais ao que antes se chamava “deduções”.

Discordo da maior parte da argumentação deste anexo, o desconto maior para os contribuintes com maiores rendimentos ocorre porque precisamente eles já estão a contribuir com bastante mais do que os outros.

Agora o governo de Passos Coelho introduziu o conceito que os trabalhadores melhores remunerados (os dois últimos escalões do IRS) não merecem que se considerem as suas despesas com a saúde. Já são muito ricos, o Estado quer lá saber se estiveram doentes ou não.

Iniciámos assim o caminho para uma sociedade de castas em que os direitos e obrigações de cada um dependem da casta a que pertence.

Deixo aqui uma foto duma sociedade com castas, tirada em Bombaim, em Novembro de 1990. Na altura surpreendeu-me o contraste do rigor geométrico da disposição da fruta, na banca privada do vendedor, com o estado deplorável do pavimento do espaço público circundante.

2011-09-08

Celosia cristata da família Amaranthaceae

Foi preciso ir à China para saber o nome da Celosia cristata, através dos comentários deste post,



que agora fotografei nos jardins da Casa da Insua


uma bonita casa apalaçada com umas árvores imponentes e uns lindos jardins, onde entre outras fotos fixei esta flor vermelha aveludada.

2011-09-04

Incompreensão


Tenho tentado mas não consigo compreender o que se passa com as pessoas que bradavam há poucos meses, quando na oposição, contra a eventual aplicação de medidas que agora nos dizem serem indispensáveis e que se apressam a executar, na sua nova condição de governantes.

Será que afinal não existe o livre-arbítrio?

Entretanto vi esta árvore, que não goza certamente de livre-arbítrio, que na altura pensei ser um plátano mas que agora suspeito que seja um choupo branco, no parque da Casa da Ínsua, em Penalva do Castelo, ao pé de Viseu. Na altura gostei dos reflexos prateados e cintilantes da luz do sol que justificariam um filme mas fiquei-me por esta fotografia



da qual mostro aqui um detalhe na resolução máxima:




2011-09-03

Confiança



Nestes tempos em que se constata ser perigoso confiar nas promessas que nos fazem, lembrei-me desta imagem duma obra da artista inglesa Tracey Emin



que foi acompanhada por este texto
«
O exercício do poder sobre alguém começa sempre assim. Confia em mim, que quer dizer, confia-te a mim. Eu nunca consigo confiar em quem pede a minha confiança. E se tento, perco-a de vista. E se confio, é porque já confiava. Confiar faz parte dos actos livres e gratuitos, governados por uma vontade que não se deixa modelar pelas ponderações do que é mais adequado fazer. No exercício do poder sobre os outros é preciso ter isso em conta. Na submissão ao poder dos outros sobre nós é escusado omitir a reserva nas conversas com os botões. É uma terrível perda de tempo o tempo de vida que se leva a perceber que se faz sempre o que se quer. Pior ainda é o custo da sabotagem da nossa vontade. Lá para a frente podem receitar-nos uns ansiolíticos para vivermos mais confortáveis com isso.
»

mostrando uma saudável desconfiança por quem começa uma intervenção por “Confia em mim”.

Na altura lembrei-me do Epiménides um filósofo cretense famoso pelo paradoxo com o seu nome dizendo: “Todos os cretenses são mentirosos”. Trata-se de uma frase cuja veracidade é impossível de provar, principalmente por ser auto-referente.

Se o Epiménides fosse vivo, ao ler o texto acima produziria possivelmente outro paradoxo dizendo: Confia em mim, não deves confiar em pessoas que começam frases dizendo “confia em mim”.

Agora que li este aviso

«
...As pessoas são boazinhas, partem do princípio de que eu também sou e confiam em mim. Não deviam. Tenho sangue a correr-me nas veias e o meu coração é tão vulnerável a arritmias como qualquer outro.
»

duma pessoa dizendo que não devemos confiar nela, interrogo-me se podemos confiar nela que não devemos confiar nela.