2016-09-30

Caminho para João D'Arens


Entre a praia do Vau e a praia dos 3 Irmãos, no concelho de Portimão, existe uma praia pequena rodeada de falésias e apenas acessível a pé, de motociclo ou de barco, onde às vezes se ia fazer um piquenique.

Existe um caminho fácil sobre a falésia ao pé do mar partindo da praia do Alemão ( ou até da praia do Vau). Verificando as horas a que tirei as fotos constato que demorei cerca de 20 minutos desde a praia do Alemão até chegar ao João D'Arens.

Estas são as rochas que se vêem do lado Oeste da praia do Alemão


e esta uma falésia da mesma praia


nesta vê-se a Praia da Rocha ao fundo em que enquadrei para ficarem visíveis poucos prédios e mesmo ao fundo o farol de Ferragudo


aqui vê-se a praia do Alemão através dum"algar" uma espécie de poço natural criado pelo colapso desta rocha frágil


na foto que segue deixei praticamente invisível a muralha de prédios altos da Praia da Rocha


e aqui mostro as formações de grés cuja côr alaranjada combina muito bem com  os pinheiros


e finalmente a praia de João d'Arens, com rochas de tonalidades quentes, desde o amarelo ao castanho alaranjado, areia branca e mar azul-verde


2016-09-29

Resistência à mudança


Sempre me irritou o argumento de que alguém estava a resistir à mudança, pareceu-me sempre que se tratava de uma figura de retórica, chamando ao oponente uma pessoa inflexível e incapaz de se adaptar ao mundo que muda tão depressa, como se todas as mudanças fossem benéficas para toda a gente.

Os anglo-saxões usam às vezes a expressão “only wet babies like change” querendo insinuar que toda a gente resiste à mudança à excepção dos bébés que gostam que mudem as fraldas quando estão molhadas. Ora esta expressão acaba por revelar que existem mudanças que até um bébé é capaz de identificar como positivas, neste caso a mudança da fralda molhada por uma seca.

De uma forma geral as pessoas gostam das mudanças que melhoram a sua vida, por exemplo nunca vi ninguém protestar por lhe aumentarem o ordenado, não gostam de mudanças em que perdem estabilidade do emprego e nalguns casos, na ausência de uma vantagem clara da nova situação, preferem a situação em que estão cujas vantagens e inconvenientes são bem conhecidos.

Esta é aliás a posição conservadora, de manter o que está a funcionar de forma satisfatória em vez de embarcar nos amanhãs que cantam. É portanto com alguma pseudo-surpresa que vejo a direita conservadora tão entusiasmada a clamar por reformas, que adjectivaram de “estruturais” quando se trata de um eufemismo para reduzir salários e pensões e diminuir a estabilidade do emprego, facilitando despedimentos e a mudança de local de trabalho.

E é por isso com alguma ironia que vejo agora a direita portuguesa a clamar por estabilidade fiscal, para atrair os investidores. Então agora querem resistir à mudança? Neste mundo sempre em movimento querem que os impostos sejam eternos? Os impostos não podem ser estruturalmente reformados? Diz que é para atrair os investidores que essa estabilidade é necessária. Os investidores também não virão se os contratos precários continuarem e não encontrem portugueses disponíveis para trabalhar nas suas empresas localizadas em Portugal, preferindo os portugueses deslocalizar-se para países onde existam contratos de trabalho bem pagos e que dêem alguma estabilidade.

A estabilidade tanto é boa para o quadro legal e fiscal como para o quadro laboral e para a segurança do emprego.



2016-09-27

Um Mar Algarvio


Não é para mim adequado procurar um nirvana neste planeta. Mas de vez em quando sabe bem contemplar uma paisagem tranquila como este mar do Algarve, fotografado em Setembro, às 12:47, menos de uma hora antes do meio-dia solar


Quando tirei a foto estava com uns óculos polarizadores pelo que os reflexos do Sol apareciam mais discretos.

Na altura parecia-me que a imagem teria "apenas" dois azuis, embora fosse evidente que existia um gradiante de azuis no céu. Seria assim um contraponto ao quadro azul que comentei em tempos.

Ao ver a foto achei que os padrões variados lhe davam mais vida. Hesitei em manter os pequenos tufos de plantas no bordo inferior da imagem mas depois achei que ficariam bem para mostrar que se tratava de uma visão a partir da terra.

A linha do horizonte fez-me pensar que talvez se aproximasse uma nave extra-terrestre emitindo grandes quantidades de luz como no filme do Spielberg.

E ao ver a linha do horizonte tão parecida com uma recta perfeita pensei também no Óscar Niemeyer e na sua afirmação, num momento mais distraído, em que dizia que na natureza só existiam linhas curvas.

Contemplar o mar parece-me bastante melhor do que ouvir algumas discussões da Assembleia da República.

Os debates no Parlamento podiam (e deviam) ser melhores


Gostei deste texto coloquial do Ricardo Marques do Expresso que resume bem uma parte da sessão de 5ª feira da semana passada:

«
...
O debate no Parlamento podia ter sido diferente? Podia, mas ainda não foi desta. Ontem, durante boa parte da tarde, os partidos e o Governo estiveram entretidos a discutir quem aumenta mais impostos, quem aumenta mais pensões, quem defende mais os que tem menos e quem ataca mais os que tem mais.

A culpa é tua, eu é que sou bom. Não, a culpa é tua e o bom sou eu. Tu és mau, queres fazer mal às pessoas e às famílias. Tu és pior, muito pior e também fazes mal às empresas. Eu baixei os impostos, tu subiste. Eu? Eu baixei mais do que tu e tu é que sobes. Eu não sou como tu. Como tu é que eu não sou.
...
»


2016-09-26

A praia em Setembro


Nos tempos de estudante costumava passar 2 meses de férias na  Praia da Rocha, que muito apreciava para conversar, conviver e pôr a leitura em dia, e que com pena me vi forçado a reduzir para apenas um mês, quando iniciei actividade profissional. Nessa altura o meu período preferido ia de 15 de Agosto a 15 de Setembro, começando por um tempo normalmente mais quente e com uma segunda parte já em transição para o Outono.

Era comum no Algarve ocorrerem um ou dois dias com uma chuvinha regressando depois o bom tempo. Depois da chuva o ar ficava mais transparente, talvez por a poeira ter assentado, e era mais agradável apanhar uns banhos de sol que já não era tão opressivamente quente. O senão era que os dias já eram mais pequenos.

Com o começo das aulas cada vez mais cedo a possibilidade de gozar dias de férias em Setembro foi-se reduzindo. Felizmente neste ano tive a oportunidade de regressar ao Algarve na 3ª semana de Setembro, depois de uma chuvinha ligeiramente atrasada no final da 2ª semana, e consolei-me com o que me pareciam os dias maravilhosos de Setembro de antigamente, numa praia ainda frequentada mas muito mais calma:


2016-09-15

O Verão ainda não acabou


Ao contrário do que parece esta chuvinha que caiu há poucos dias mais a que se anuncia para o fim desta tarde é apenas a chuvinha habitual da transição de Agosto para Setembro que este ano se atrasou uns 15 dias.

Ontem o céu no Parque das Nações estava bastante dramático (lembrou-me "L'empire des lumières" do Magritte) como há tempos que não se via


mas o tempo vai voltar a aquecer, para finalizar o Verão de forma condigna.


2016-09-13

Leques japoneses



Quando fui passear ao Japão em 2014 encomendaram-me uma “Bento box” ou “caixa bento”, uma lancheira usada no Japão em que o modelo clássico é do género desta caixa com divisórias colocada sobre um tabuleiro com uma tigela de sopa ao lado, conforme se vê na  figura que fui buscar à wikipedia aqui.


Em Kyoto procurei na internet por Bento Box e encontrei a firma “Bento&co.” com uma loja nessa cidade anunciada aqui.

Usei o Google Maps para ver como poderia lá chegar por transporte público e o trajecto incluía tomar o metro, de uma limpeza notável


andar um pouco na avenida Karasuma Dori


(via em que aquele edifício com cobertura verde-clara faz lembrar a Escandinávia, se constata que a circulação se faz pela esquerda, influência provável do império Britânico, que os sinais luminosos para o trânsito têm as lâmpadas em fiada horizontal em vez de vertical como no Ocidente)

e tomar mais à frente a transversal Rokkaku Dori (Dori deve querer dizer “Rua”, larga ou estreita).

Uma das transversais da Karasuma Dori que acabo de mostrar tinha este aspecto, onde me chocou a infraestrutura de distribuição de electricidade



e uns transformadores no alto dum poste colocado numa rua


São por exemplo estas coisas que nos levam a dizer, “na Europa não é assim”, tomando consciência que existem realmente características comuns a todos os países europeus que não se encontram noutras partes do mundo. Esta confusão das instalações eléctricas é tanto mais surpreendente quanto o Japão tem um gosto por organização e disciplina que na Europa parece quase obssessivo. Fiquei a pensar se seriam razões técnicas, económicas ou sociais/culturais/políticas que estariam na origem desta situação.

E retomando o percurso virámos na Rokkaku Dori. Encontrei no Google Earth esta vista de rua que mostra a entrada de uma loja de leques que não resistimos a visitar.


O padrão que mostro a seguir é recorrente no Japão,


umas vezes representa escamas de peixes, outras as ondas do mar, calçadas, às vezes mesmo zínias, desta vez deve ter sido escolhido por poder também representar uma multidão de leques.

No início do andar de cima tirei esta foto


que pude depois comparar com outra neste sítio da internet onde constatei que se trata duma loja estabelecida em 1823, a Miyawaki Baisenan, uma das lojas mais históricas do Japão, está a 7 anos do bicentenário.

O leque que mostro a seguir tinha afixado um preço de 20.000 yens, ao câmbio actual seria cerca de 115€, existiriam mais baratos e mais caros.



Duvido que o controle de brancos da foto anterior estivesse neutro mas gosto da tonalidade quente.

Na foto seguinte constata-se que existem sofás para os clientes poderem apreciar confortavelmente sentados os produtos que vão adquirir



em que além dos motivos florais sobre papel dourado também existem flores sobre suporte de madeira


em que desta vez está bem visível o fio branco que liga cada uma das tabuinhas de madeira que constituem o leque. Já não sei se o que segue é uma janela ou um espelho


A loja está ainda preparada  para clientes que prefiram apreciar os leques em cadeiras em vez de sofás



não descurando as preferências por um ambiente japonês tradicional, de mesas baixas e almofadas sobre tatami


Regresso à multidão de leques que desta vez são ondas do mar, chamando a atenção para a subtileza dos ritmos com que aparecem as ondas com “espuma”. Existem diagonais onde nunca existe “espuma” e outras com outros ritmos. Os ritmos são mais monótonos quando se observam as linhas horizontais.



E para finalizar, um leque sobre madeira mostrando uma ponte, água, nuvens e garças voando


Depois regressámos ao mundo real na Rokkaku Dori



onde os cabos eléctricos e transformadores também são conspícuos e chegámos à casa das caixas Bento,


onde comprámos o que nos tinham encomendado, deixando uma espécie de selfie do autor deste blogue no reflexo da montra da loja

2016-09-12

O alegado paradoxo da taxa de encarceramento


Na sequência do post anterior li a intervenção do presidente do STJ na abertura deste ano judicial em Set/2016 que me pareceu sensata.

Houve contudo um parágrafo, que tenho ouvido de vez em quando por outras pessoas na comunicação social e que transcrevo:
«
Preocupações - perplexidade - centradas na circunstância de Portugal, como salientam os Relatórios de Segurança, ter uma criminalidade moderada, em posição privilegiada no contexto europeu, mas apresentar, paradoxalmente, uma das mais elevadas taxas de encarceramento por 100.000 habitantes, e a maior duração média da permanência na prisão em relação aos países da União Europeia.
»
e que me suscita grande discordância.

Não vejo aqui nenhum paradoxo mas tão só um indício de que a nossa taxa de encarceramento poderá ser excessiva por ser das mais elevadas na União Europeia. A referência à concomitância da taxa elevada com uma maior duração média de permanência na prisão parece-me também desnecessária pois será de esperar alguma correlação entre taxa de encarceramento e duração média do mesmo, as duas variáveis não são independentes pelo que bastaria referir a taxa.

Para usar uma linguagem simples, pode acontecer que a nossa criminalidade seja moderada porque como conseguimos manter os maus encarcerados, eles têm fortes limitações na execução de crimes fora das prisões. Já dentro das prisões surpreendem-me um bocado as notícias que circulam nos media da disseminação de drogas ilegais dentro dos estabelecimentos prisionais.

Ignorar a possível causalidade entre grande taxa de encarceramento e criminalidade moderada (moderada possivelmente por essa taxa de encarceramento) parece-me surpreendente para um presidente do STJ, interrogando-me se se tratou duma frase menos feliz ou se existem graves erros no meu raciocínio.
 

2016-09-10

Leque



Num noticiário de TV no passado dia 1 de Setembro notei numas imagens da cerimónia de abertura do ano judicial que a temperatura da sala (no sentido de propriedade física da palavra) estaria muito elevada e que o operador da câmara, provavelmente a sofrer também com o calor, se entretinha a registar de forma talvez excessiva os incómodos dos participantes.

Antigamente estas cenas de desconforto térmico eram frequentes nas igrejas durante o Verão, em que as senhoras usavam leques, não sei se o ar condicionado do Salão Nobre do Supremo Tribunal de Justiça estava avariado ou se não existe.

No Japão há alguns anos dispensaram as pessoas de algumas formalidades do vestuário durante a época de Verão, para poder reduzir um pouco a intensidade do ar condicionado, poupando energia e mantendo o conforto. A própria Assunção Cristas tentou uma medida parecida quando foi ministra, não sei se com sucesso. Como habitualmente choveram muitas críticas, a uma medida que me pareceu sensata.

Tinha a ideia que a palavra leque vinha da língua japonesa e que teriam sido os Portugueses a trazer essa novidade para a Europa. Afinal, segundo este artigo da Wikipédia os abanos já tinham sido usados por muitos povos e o papel dos Portugueses foi apenas reavivar uma prática que tinha caído em desuso na Europa.

Em inglês usam a palavra “fan” (como para ventoinha), em francês “éventail”, em espanhol “abanico” e por aí fora sem parecenças com a palavra “leque”. A palavra em japonês é “扇子” e a sua pronúncia não parece nada “leque”. No artigo da wikipédia diz que leque é uma forma abreviada de “abano das léquias”, sendo as léquias umas ilhas entre o Japão e a Formosa chamadas assim a certa altura pelos portugueses (por razões que não consegui apurar) sendo actualmente mais comum o nome de ilhas Ryukyu. O Japão anunciou em 1879 a anexação formal destas ilhas, tendo essa acção sido contestada então pela China. Já nessa altura o presidente dos EUA foi solicitado para servir de árbitro, tendo dado razão ao Japão.

Há muitos tipos de leques, achei curioso este leque que julgo que me ofereceram num restaurante chinês em Lisboa, feito com madeira com muitos orifícios e posteriormente pintada com vários grous.




Demorei algum tempo a descobrir o que evitava que as peças de madeira se separassem. É um fio de nylon transparente, com nós nas duas últimas peças do leque, é para isso que servem os dois buraquinhos em cada uma delas. O fio passa depois pelo interior de cada uma das peças de madeira, convenientemente atado com nó em cada uma das peças interiores sendo o nó dado numa posição assimétrica em cada peça de madeira para favorecer a abertura num dos sentidos e limitá-la no outro. Talvez esta técnica seja antiga e usassem um fio fino de cor discreta. Com fio de nylon só a partir da 2ª metade do século XX.



Há muitos anos, numa visita de técnicos japoneses à EDP, ofereceram-me um leque numa caixa levíssima de madeira que suponho ser de balsa. Não o tenho usado mas nestes dias de calor também me lembrei dele. Apresento primeiro a caixa em que veio acondicionado





depois aberto sobre um fundo escuro, tinha uma etiqueta que informava que este leque tinha seda


e finalmente contra o azul do céu






2016-09-06

Saúde, Riqueza e Desigualdade


Acabo de ler "A Grande Evasão" de Angus Deaton.

A evasão deste livro refere-se à libertação por boa parte da humanidade da prisão da doença e da morte prematura, sobretudo na segunda metade do século XX se bem que referindo os progressos que ocorreram em tempos mais recuados. Para a maioria dos países que então se libertaram do jugo colonial existiam poucos dados estatísticos e mesmo agora a falta de informação fiável dificulta a análise detalhada da sua evolução. A diminuição da mortalidade infantil foi o motor principal do enorme aumento da esperança de vida à nascença, complementado nos países mais desenvolvidos com o prolongamento da vida dos idosos. Existem melhorias na saúde dum país que podem ser obtidas através de cuidados médicos mas outros que só se conseguem educando a população e construindo e mantendo as infraestruturas do chamado saneamento básico. Em Portugal o grande esforço no saneamento foi feito após o 25 de Abril e a União Europeia deu uma grande contribuição para esse esforço.

Além da evasão da doença o livro fala também da evasão da pobreza, da importância da desigualdade, quer dentro de um país quer entre países, quer como motor de progresso quer como travão do mesmo progresso.

Na terceira parte o livro fala sobre a ajuda internacional e as suas limitações.

Gostei do livro e recomendo-o.


Adenda:  a Organização Mundial de Saúde declarou na passada segunda-feira (2016-09-05) que o Sri Lanka está livre de Malária.

"Em Portugal, os últimos casos de Malária adquirida no país foram diagnosticados em 1959, e desde então a totalidade das ocorrências são casos importados por pessoas que visitaram países tropicais...". Ainda não nos libertámos das leis da morte mas vamo-nos libertando de algumas doenças.

2016-09-04

Continua o calor


Este calor está a ficar monótono, excessivamente agradável. Hoje à uma da tarde "...nem uma agulha bulia, na quieta melancolia, dos pinheiros do caminho..." como se pode constatar nestas duas imagens da Ponte Vasco da Gama tiradas na sombra da alameda de pinheiros adjacente ao jardim Garcia da Orta no Parque das Nações.